22.11.02

Comentário de um leitor na caixa de comentários:

Fala.
O texto lá embaixo dá até pra discutir as idéias, agora quando você chama a Benedita de "macaca" como já fez, fica bem mais difícl de discutir qualquer idéia. O texto do cara é equivocado, e dias de zumbi a parte, qualquer tipo de racismo é escroto.
-Marcio


Márcio, talvez meu maior erro foi ter registrado por escrito o que muita gente fala a torto e a direito. Dentre os setores da nossa sociedade, talvez os negros, desculpe, os afro-brasileiros, sejam os mais delicados de se sacanearem. Português, nordestino, viado, surfista, hippie, aleijado, judeu, evangélico são defenestrados, de certa maneira, com naturalidade. Mas afro brasileiros...

Se você viu o programa sobre o Casseta e Planeta no Multishow deve ter ficado horrorizado quando viu o depoimento do Marcelo Madureira (talvez o mais escroto dos sete) sobre o Hélio De La Peña: “O Hélio é o preto do grupo, é quem faz as merdas. Qualquer cagada a gente já sabe que foi ele quem fez”. Mais ou menos assim.

Outra dia, um afro-brasileiro chegou na casa de um conhecido meu que mora na boca da favela. Pegou o jornal pra ler e ouviu dele: “porra negão, tá pegando o meu jornal pra que, se você não sabe ler? Tá vendo figura?”. Fosse um desses carinhas engajados já anuncia a lei Caó.

No imbróglio que tive com os fãs do Senhor dos Anéis (desculpem, os arquivos ainda estão fora do ar) falei que quem é preconceituoso no Brasil é burro (pra quem não sabe, considerei a adaptação do livro do Tolkien como o filme gay mais caro da história). Realmente, tem vezes que o limite entre humor e racismo é bastante tênue. Aliás, a piada que fiz da Benedita foi mesmo sem graça e pôde muito bem ser interpretada como racismo.

Acho que não vai ser, por exemplo, com o MV Bill falando que os brancos mataram o samba que as coisas serão resolvidas. Lembre-se da lição daquele filme de guerra, Tempos de Glória. Tanto faz ser branco ou negro, vai todo mundo pra mesma cova.

No mais, assistam South Park e ouçam Casseta e Planeta.

Mama Áustria (com Hélio De La Paña no vocal)

Eu não sou neguinho, eu não sou negão
Sou branco azedo, africano não
Não como vatapá, não como acarajé
Só caviar, lagosta e beaujolais

Nanana nananananão
Ê, Mama Áustria, ê
Mama Áustria, ê, ê, ê, ê, ê

Meu cabelo é liso e o deu meu irmão
Não curto funk, não toco percussão
Não suporto samba, nem aperto um fino
Eu nunca li a lei Afonso Arinos

Trench Town, Alagados, Favela da Maré
Passo longe, nem sei onde é
Nunca fui barrado, nem levei geral
Meu pai de santo mora em Blumenau


Comentário sobre a música, no encarte do LP Preto com um buraco no meio (cuja capa e título deram a maior merda):

Peça do folclore catarinense, recolhida pelo Departamento de Limpeza Pública de Joinville. Adaptação do Afoxé Filhos de Gramsci.

Nota do Vela: o político e filósofo Antonio Gramsci foi secretário-geral do Partido Comunista Italiano em 1923. Foi preso 3 anos depois por defender um estado fascista. Na prisão, escreveu o que é considerada uma obra-prima, Cartas do Cárcere.