30.12.02

SENHOR DOS ANÉIS – AS DUAS TORRES



Há um ano escrevi aqui no blog que “o senhor dos anéis” poderia ser considerado o filme gay mais caro da história, pelas baitolagens hobbits e pelos 300 milhões de custo. Graças ao Pablo Peixoto, que jogou o texto numa lista de discussão de fãs do Tolkien, recebi uma saraivada de e-mails invocados, devidamente respondidos.

Mas isso é passado. Esse ano decidi que veria a segunda parte sem a óbvia intenção de sacanear o filme. Até porque gostei das cenas da tal batalha que vi na televisão. Mas...

Deixo as complicações da história, a longa duração e o ritmo arrastado para analisar o filme de acordo com a platéia e suas reações. Deve-se ter piedade de gente que conseguiu ler um livro tão grande quanto chato, muitas vezes só pra não se sentir deslocado dos amiguinhos que já haviam lido e só falam dele.

O ambiente da sala 3 do Cinemark Botafogo na noite de sexta-feira não era dos mais acolhedores. Pelas caras das pessoas via-se que o RPG tinha ficado pra outro dia. Até aí nada de anomal a presença maciça de anormais. A ansiedade daquela gente era piorada com Ivan Lins e Milton Nascimento, que compunham o som ambiente. Algumas pessoas não se contiveram. Quando passou uma ridícula animação pedindo para que os celulares fossem desligados, um marmanjo burro velho berrou: “isso é coisa de Harry Potter!”. Ok, ok, os caras passam o ano todo esperando pelo filme, devem sentir algo mais forte que a primeira vez, se bem que muitos ali não deveriam saber fazer tal comparação.

No começo do filme, Frodo e Sam estão perdidos numa montanha. Frodo vira para seu fiel escudeiro e com um sorriso garoto maroto travesso diz: “Sam, com você não tem tempo fechado”. Parte do cinema mandou aquele “Hummm...”. Mas calma, nada de maldade. Segundo os fãs de Tolkien isso simboliza a amizade pura. Os tremeliques suspeitos de Frodo não querem dizer que ele está louco para queimar o anel e cumprir logo sua missão. Também não dá pra afirmar que Sam tem ciúmes do ser esquisito Gollum.


O chamego de Sam e Frodo. Gollum agacha prum cocô

A cada vez que as pessoas riam das piadas absolutamente graça do anão eu me perguntava o que fazia ali. A criatura consegue a proeza de ser mais sem graça que o Jô Soares. Também fora do tom foram as risadas com o conflito interior do Gollum, que deveria ser uma parte dramática. Vá entender.


O anão Gimli: o Jô Soares da Terra Média

Pior foi quando essa gente carente aplaudiu o tal Legolas. Na primeira vez, quando ele pula num cavalo em movimento, o que Indiana Jones faria de olhos fechados. A segunda ovação veio durante a batalha, quando Legolas desce uma rampa deslizando sobre um arco. Coisa que Vin Diesel – símbolo sexual dos malhadores e dos sujeitos que colocam neon debaixo do carro – faz com uma bandeja em “Tripo X”.


Legolas: seguidor de Indiana Jones e Vin Diesel


Vin Diesel em Triplo X: ele fez primeiro


"Pô aí mermão, tô sabendo que uma bichinha loura tá me imitando. Vô passá o rodo nela".

Enfim, a batalha, depois do meu 25º bocejo, da 14ª olhada no celular pra ver a hora e da oitava espreguiçada. O sujeito do meu lado, que riu várias vezes das piadas do anão, esfregava as mãos de tanta ansiedade. E, talvez pra se “inserir” mais no filme, sentou-se na ponta da cadeira. O diretor Peter Jackson – dos renomados “Trash – Náusea Total” e “Fome Animal” – teria feito um grande favor se colocasse a batalha no começo do filme.


Quando a batalha finalmente chega a guerra é contra o sono

Uma cena um tanto ousada para os padrões da obra não causou nenhuma reação imediata da platéia masculina, mas nesse fim de semana muitos banheiros devem ter sido ocupados por conta dela. É quando o contorno dos peitos da Liv Tyler são mostrados discretamente.


Mulher: artigo raro no senhor dos anéis

A platéia novamente se manifesta quando Frodo dá mais um xilique e aponta a espada para Sam, que entrega o jogo: “Sou eu Frodo, o seu Sam!!!”. E repete, pra deixar bem claro: “O SEU SAM!!!”. É pessoal, não deu pra mudar de opinião. O senhor dos anéis continua sendo o filme gay mais caro da história.

Na saída da sala, aquele mesmo marmanjo burro velho do começo do texto que berrou “Isso é coisa de Harry Potter!”, gritou pro colega que havia sentado algumas cadeiras distante: “Aí Fred, melhor que Harry Potter!”.

Por favor, onde fica a saída de emergência!?

A propósito, não apareceu ninguém fantasiado no cinema. Também não aplaudiram quando apareceu o nome do Tolkien nos créditos finais. Isso é decididamente coisa de paulista.