A deputada estadual Cida Diogo tinha acabado de dar o seu recado no Encontro das Profissionais do Sexo. Incentivou as prostitutas a lançarem uma candidata nas próximas eleições, senão pra ganhar, pelo menos pra debater a situação delas e falou do preconceito que as meninas sofrem nos postos de saúde.
Como é de praxe, foi aberto um tempo pra que a platéia, composta por cerca de 50 pessoas, a maioria de putas coroas, fizessem perguntas. Um neguinho miúdo, peito estufado, roupa colorida e cabelo amarelo – espécie de Madame Satã dos dias de hoje – fez uma denúncia: policiais militares extorquem dinheiro de putas da Quinta da Boa Vista e de Bonsucesso. A deputada se esforçou pra dizer que a solução não cai do céu, que isso passa por várias coisas, etc, etc.
Logo em seguida um sujeito da platéia se levantou. Grisalho, pele de índio, camisa e calça social compradas numa loja de segunda, ele se apresentou como “sargento da PM há 35 anos”. O Madame Satã, sentado duas fileiras à frente, virou pra trás e suspirou bem baixinho: “que maravilha”. Em tom de discurso e com aquela voz rasgada típica de carioca suburbano das antigas, o sargento contou que sempre defendeu as putas e travestis da Praça Tiradentes. “Cansei de carregar nas costas meninas enfraquecidas pela aids até o hospital e de lá pro cemitério do Caju”. Falou emocionado por uns 10 minutos, sendo aplaudido no final.
Fascinante.
Depois eu falo do jornal Beijo da Rua, que se diz o único dirigido às profissionais do sexo. Ah, leiam a coluna do Eugênio Bucci de hoje. Também é sobre o tema. Um trecho: “todos olhamos para as prostitutas com nojo, indignação, medo, ódio. E também as desejamos feito lobisomens da noite”.
Ontem, no encontro, eu ouvi pelo menos umas 3 vezes falarem “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”.
Maria Madalena deveria ser canonizada como santa protetora das putas.