15.10.02

RED HOT IN RIO: EU FUI

Sexta-feira à noite. Já estava resignado em ir ao cinema quando meu celular tocou. “Vela, aqui é o Garganta Profunda. Uma parceira aqui da corporação tem dois convites pro show do Red Hot mas não vai poder ir. Como estou deveras cansado, comentei que você queira ir”. Achei que fosse sacanagem do Garganta Profunda. Mas não. Aos 44 do segundo tempo, consegui duas entradas pro show mais esperado do ano, mas que eu havia me negado a pagar 90 reais pelo ingresso.

No caminho, um trânsito escroto no Andaraí. Chegando na Barra, o locutor idiota da Rádio Cidade avisava que a banda estava subindo no palco. Desliguei o rádio pra não ficar mais nervoso. Na entrada do Via Parque um cambista quase se atirou na frente do carro tentando vender ingresso. De tão afoito, falei o nome errado da moça que tinha nome na porta. A mulher me corrigiu, peguei os ingressos, passei no camarote, dei um berro, fui mijar e desci pra pista, que é lugar de se ver show.

Pisei na pista do ATL Ráu nos primeiros acordes de “By the Way”. Depois veio “Scar Tissue” e “Around the World”. Começo arrasador. Anthony Kiedis disse que esperava fazer muito sexo no Brasil, sem se importar que a maior parte da platéia deixava as fraldas quando eles lançaram “Blood Sugar Sex Magik”, em 1991. Flea, uma mistura de Alfred Nelman da revista MAD com o patinho do Tom & Jerry, era o palhaço da festa, plantando bananeira e falando besteira. Já esperava que o show fosse mais calmo, sem as porradas do “Mother´s Milk”, para tristeza de um cara que usava uma surrada camisa, com estampa desse disco. O antigo fã contrastava com a molecada que foi com os pais. Vi um cara no gargarejo como braço inteiro engessado e na saída, uma garota com a perna engessada, de cadeira de rodas. Deve ter pulado muito.

Sem as porradas, a banda pelo menos mostrou mais vontade que no burocrático show do Rock in Rio 3. E se o show não é tão “pulável” (para isso eles resgatam “Give it Away” e “Suck my Kiss”) não faltaram hits, como “The Zephyr Song”, “Californication” e “Other Side” e “I Could Have Lied”.

Antes do bis, um consternado roadie retirou do palco um sutiã vermelho. E foi no bis que veio “Me & My Frieds”, do “The Uplif Mofo Party Plan”, única música fora do eixo “Blood Sugar-Californication-By the Way”. Na saída do ATL Ráu dava pra ver a montanha russa da Terra Encantada. Além da referência de "Rollercoster of love" aquilo poderia ser uma metáfora da carreira da banda, cheia de altos e baixos (oh, Vela, que lindo!). Na saída do estacionamento, senti que estava faltando alguma coisa. Não estava mais. Começou uma correira da molecada. Briga de ganguezinha. Coisa de idiota, mas que acontece sempre nas saídas dos show desse lugar.

Consegui ia ao show de grátis, beleza. Mas ainda fica a pergunta: porque não foi na Praça da Apoteose, onde certamente 40, 50 mil pessoas poderiam pagar mais barato para assistirem ao show? Será que o Fernandinho Beira-Mar, que está preso no Batalhão da PM ao lado, vetou?

Mais uma vez, valeu Garganta Profunda! Vou arrumar pra você um ingresso pro show do Rogério Skylab, no final desse mês, na Tijuca, ok?