10.10.02

EDIFÍCIO MASTERs of the universe


ô minha filha, você não tem uma louça pra lavar não?

Muito bom o documentário novo do Eduardo Coutinho, “Edifício Master”, sobre o cotidiano dos moradores de um prédio de quitinetes em Copacabana. Há alguns anos o prédio era um mafuá, freqüentado por putas e bêbados. Nos dias de hoje a ordem é mantida pelo síndico boiola, que revela a sua tática: "Eu uso muito Piaget. Mas quando não dá, apelo pro Pinochet".

Difícil apontar a figura mais marcante. Tem a professora de inglês sociofóbica, que de tão perturbada não consegue olhar pra direção da câmera. Ela mesma não sabe como consegue morar num bairro como Copacabana, que lhe causa pavor: “não sei se são as calçadas estreitas ou o número de pessoas. Ou as duas coisas”. Ficaram algumas dúvidas: como ela consegue dar aula assim? Será que essa mulher consegue foder? Será que ela olha o cocô dela na privada?

Mais anormais: uma banda de três paranaenses, onde um canta, outro toca violão e o terceiro fica parado vestido com uma capa de chuva amarela, sendo proibido de falar por representar “uma imagem da mensagem que eles passam” (!?!?!).

No meio dos anônimos moradores, um “famoso”, ao menos no folclore do futebol carioca: o ex-treinador do Itaperuna que ficou peladão numa partida, há uns 5 anos. O sujeito chegou a gravar até um disco e desde aquele episódio não arrumou time pra treinar. Olho nele, dirigentes cariocas! Quem realmente canta é o coroa que conheceu Frank Sinatra. Ao acompanhar “My way” ele bota qualquer boneco do “Fama” no bolso, no quesito emoção.

O depoimento de uma espanhola que trabalhou como doméstica deve ter escandalizado sociólogos de plantão: “não existe miséria no Brasil. O pobre é que é preguiçoso. Se ofereceram um trabalho, ele diz, ah, não vou, paga pouco. Se derem um remédio no posto de saúde ele tem preguiça de ir pegar”.

Vi outro documentário do Coutinho, “Santo Forte”, sobre religião. Nele, os entrevistados também dão seus depoimentos em casa, o que pode ser um dos trunfos para deixá-los mais à vontade. De repente rola também um “chachezinho”, não sei. E normalmente a primeira abordagem é feita pelas simpáticas garotas da equipe. Certamente bem melhor do que dar de cara com aquele sujeito esquisito e barbudo que é o Coutinho.

“Edifício Master”! Em breve no cinema cabeça mais próximo da sua casa.

P.S.1 - Quando cheguei no cinema, um pouco atrasado, um cara acabava de falar antes da exibição. Era um dos moradores, que no filme recebe a equipe de filmagem com quitutes. Poderia ter feito o mesmo ali no cinema. Que cara ingrato!

P.S.2 – comentário de um cinéfilo sensível: “vi tanto filme do festival que eu nem te conto”. Aposto que da mostra gay o rapaz deve ter visto todos.