25.10.02

CANTOR MANÍACO INVADE TEATRO E MANTÉM 50 REFÉNS
O cantor Rogério Skylab invadiu na noite desta quinta-feira o teatro Ziembinsky, na Tijuca, onde manteve cerca de 50 reféns presos. Durante uma hora os reféns foram violentados com a escatologia e a poesia mórbida do poeta e cantor.


A coincidência fantasiosa com o ato terrorista no teatro em Moscou não foi a única da noite. O estranho e bizarro universo de Skylab está presente ao redor do teatro. Basta atravessar a rua para pegar um "Metrô" (Eu olho pela janela / Eu vejo só escuridão / Eu tô debaixo da terra / Será que tudo é ilusão?), comer um podrão numa ,"Carrocinha de cachorro quente" (Ah lá, ele tá coçando o cu com a mão / Moça, oh moça, não compra cachorro quente não) ou ir à igreja de São Francisco Xavier, onde há décadas funcionava o "Convento das carmelitas" (Esperei uma freira passar, esperei, esperei / A primeira freira que passou, estrangulei).

Junto com a banda Onno, Skylab deu o pontapé inicial do Projeto Novos das Nove, que nas próximas quintas-feiras levará bandas novas ao teatro Ziembinsky. O show serviria para Skylab promover seu novo trabalho, Skylab III. Isso se ele, estranhamente, não cantasse nenhuma música do disco. Se bem que em termos de Skylab, tudo é estranho. Na primeira música, inédita, Skylab deu a entender que não tem paciência com crianças que choram de madrugada. Calaboca feladaputa!!!, grita, desesperado. Se num atentado tivessem crianças entre os "reféns" elas seriam as primeiras a serem libertadas. Ou mortas.

Em outra inédita, Skylab faz uma ode à apresentadora do Jornal Nacional. Fátima Bernardes mandou um beijo / Fátima Bernardes pra presidente / Fátima Bernardes tem corrimento / Fátima Bernardes também é cultura, entremeados pelo refrão Glória Mariiiiiaaaaaa. Na certa, Skylab exigiria a presença das duas na cobertura de seu atentado. Talvez as trocaria por alguns reféns.

Uma das principais características de um show do Skylab é sua presença (ou ausência) de palco. Magro, branco, desengonçado, cabelos compridos e desgrenhados, óculos, roupas pretas e desgastadas. Não fala com a platéia, no máximo um boa noite e obrigado no final do show. Não sorri, apesar da platéia cair na gargalhada com seus versos, e faz cara de deprimido. Na hora do instrumental, sai do palco ou fica vagando por entre os músicos, como uma alma penada.

A maior interação com o público costuma ser durante a execução (ops!) de “Matadouro”. Neste show, Skylab saiu do palco com um facão em punho. Pulou atabalhoadamente duas fileiras vazias enquanto cantava os versos: Vem cá meu bem / Me dê a mão / Vamos sair / Pra ver o Sol / E aí então / Vou te mostrar / O amor pungente.... Praticamente trepado sobre a "vítima", uma garota sentada ao lado do namorado, desferiu "golpes" berrando ...DOS ANIMAIS! AH!AH!AH!AH!.

No suposto seqüestro no teatro, Skylab não teria problemas com falta de alimento. Era só escolher um refém bem apetitoso e mandar os versos de "Carne Humana", Mas o que eu gosto, o que eu gosto de comer é carne humana, iô, iô, iô. E sempre que matasse um refém, procuraria ser higiênico. “E quando você aperta o gatilho / Você lava as mãos antes e depois / Antes ou depois / Ou nem antes nem depois? ("Antes e depois").

No trabalho de Skylab há uma forte fixação patológica, menos fácil de digerir, em músicas como "Derrame", "Música para paralítico" e a polêmica "Câncer no cu", que de acordo com o site, “nunca será comercializada”. Qual a diferença entre eu, Ana Maria Braga e Mário Covas / É que Mário Covas já morreu / Ana Maria Braga tá morrendo / E Rogério Skylab vai morrer / De que? / De câncer no cu. Skylab jura que a cantaria sem problemas numa nova ida ao Programa do Jô. O gordo, aliás, não consegue conter a empolgação com a presença de Skylab, só faltando beijar os seus pés.

Só há uma coisa certa numa apresentação de Skylab. O encerramento com o seu clássico “Matador de Passarinho”, para escandalizar os eco-chatos. Fora isso é uma viagem extra-sensorial ao doentio mundo trash do cadáver ambulante chamado Rogério Skylab.