19.4.02

A HISTÓRIA DA GAVETA SUICIDA

Essa semana o Centro do Rio foi palco de uma série de suicídios de objetos deprimidos, que deram fim às suas vidas se tacando do alto dos prédios. Na terça-feira, placas de granito jaziam despedaçadas no chão da Avenida Rio Branco. No dia seguinte, um pedaço de madeira deu adeus a este mundo. E na quinta foi a vez de uma gaveta de arquivo do INSS. O que ninguém sabe é que há tempos muitos objetos vêm sofrendo de depressão por não agüentarem mais a monotonia de seus empregos.

A gaveta do arquivo, por exemplo, estava farta de guardar processos modorrentos durante anos e ser mexida por funcionários públicos burocráticos. Seu sonho era trabalhar na parte de psicologia da biblioteca da PUC. "Gostaria de ser tocada pelas mãos sedosas e hidratadas das patricinhas bronzeadas, sentir o perfume suave das colônias importadas", confidenciou para um companheiro de arquivo. Sim, apesar do gênero, a gaveta era macho. "Ah, eu misturaria as fichas do Jung com as do Freud só pra ficarem mais tempo procurando em mim, me tocando com aquelas unhas sem cutículas! E pra que essas princesas viessem me visitar sempre, torceria para que os meus inimigos computadores quebrassem ou ficassem ocupados pelos lesados da engenharia. Ou que elas mesmas, desprovidas de inteligência, não aprendessem a consultar os computadores". Mas o desejo ficou apenas no sonho. Sem perspectivas, A poucos anos da aposentaDORIA, a gaveta preferiu a morte.

P.S. - o tal italiano que espatifou o teco-teco no prédio da Pirelli em Milão disse pra amigos antes do último vôo que estava com problemas financeiros. Se a moda pega por aqui... Mas ainda há suspeita de que Luigi Fasulo, precisando comprar pneus, viu o prédio da Pirelli e resolveu dar uma paradinha. Só que na hora de estacionar...