5.4.02

ARTE TRASH

Uma sala imensa com as paredes tomadas por sacolas é arte? E um monte de notas de cem cruzeiros costuradas umas nas outras? Para a artista plástica Jac Leirner é. Sem ter nada melhor pra fazer, ela juntou por vários anos cartões, cédulas, celofanes de cigarro, sacolas, adesivos e todo tipo de lixo urbano para formar uma exposição que está no CCBB. Se nenhuma peça for comprada, pelo menos o material já está separado pra reciclagem. Arte ou não, cédulas de 100 cruzeiros com desenhos pornôs e frases da sabedoria popular machista rabiscadas são puro humor:

"Quem quiser comer viúva, mate o pai e coma a sua mãe"
"Pega essa nota e passa no cu, porque ela foi batizada pelo meu pau"
"Nem é noiva, nem é casada e ainda diz que não é puta"


Na sala das sacolas reina a diversidade. Vai de Ives Saint Laurent ao tênis infantil Bubblegummers, aqueles que tinham cheiro de chiclete. Lojas da época da minha adolescência e que sumiram do mapa, como Fotomania (onde me abastecia de fitas de áudio TDK) e PIER (Paraíbas Invadem o Estado do Rio, concorrente da Company). E embalagens do Churrasquinho São Miguel ("organizamos sua festa") e do arroz Pelotense (ui!). A sacola do loja americana onde a Narcisa Tamborindengue compra sua calças está lá: Cocaine Jeans.

A "exposição" está no CCBB até dia 28 de abril. Vá antes que algum turista argentino roube as notas de 100 cruzeiros pensando que valem mais que o peso.