3.4.02

FUTEBOL ARTE

O centenário do Fluminense ganhou uma exposição no Maracanã tão desorganizada quanto o Flamengo. As taças foram identificadas pelo torneio e ano da conquista, mas o resultado do jogo final não é informado. Todo tricolor que se preza sabe que o Campeonato Brasileiro de 1984 foi conquistado em dois jogos contra o Vasco (1 a 0 e 0 a 0). Mas e o belíssimo Teresa Herrera? E a mirrada Copa Rio, que os tricolores querem que seja reconhecida como título mundial? Para não lembrar dos tempos de horror, o caneco da terceira divisão foi vetado pelos organizadores. Mas o "tão comemorado" troféu do tricampeonato brasileiro de tiro figura na exposição.

Apesar do agradável ar-condicionado da "galeria", as modelos que exibem as camisas do centenário reclamam do calor. Dei uma apalpada (no tecido!) e pude constatar que o material é realmente espesso. Vai ter que ser "tricolor de transpiração" pra usar a camisa nesse calor insano.

De volta à verdadeira exposição, Pelé, na época em que não era broxa assumido, aparece num poster com a camisa branca do Flu, perfilado com o resto do time. Não há nada informando que aquilo se tratava de um amistoso na Angola contra a seleção local, na década 70 (ou 60?). Naquele dia a guerra civil no país foi interrompida só para o povo ver o Rei passar. Deve ter gente achando que o poster era montagem.

Há relíquias, como o primeiro uniforme de 1902, cinza e branco. Deve estar hospedando a trigésima geração de ácaros. Mas futebol é movimento e o vídeo do Canal 100 é para ganhar Oscar de melhor documentário de todos os tempos. Noutro, curtinho, várias seqüências históricas são exibidas ao som da manjada, porém bela, Cavalgada das Walkirias. Sempre que o trecho da lenda nórdica de Wagner toca vem à minha mente a imagem de um navio envolto numa tempestade em alto mar. É a trilha sonora perfeita da final do Estadual de 95, quando o Flu, debaixo de um temporal, fez 2 a 0, o urubu empatou (resultado que dava o título para a coisa ruim no ano do centenário) e num final épico, Renato Gaúcho fez o eterno gol de barriga.

Ainda no curta, gente que fez a minha infância mais feliz, como Washington, Assis, Romerito, Branco, Ricardo Gomes. E gente esquisita, como o iuguslavo Andjel, atacante reserva do time do ano passado. Fica a expectativa para o filme que está sendo produzido especialmente para o centenário (sou mais uma homenagem da sétima arte do que de uma escola de samba qualquer).

A exposição está no hall da tribuna do Maraca, entrada pelo "destruído" portão 18 (onde construiram um museu do futebol). Vai de 11 às 17, até o próximo domingo. Dia de Fla-Flu!