20.5.03

PRAGAS URBANAS - 1

Atravessei a rua e fiquei de frente pro ônibus que ia pegar. Ele já tinha passado do ponto, mas parou pra mim. Vi que o motorista tinha ignorado uma velhinha no ponto. Quando a porta da frente do ônibus abriu, chamei a velhinha.

Antes, um adendo: aqui no Rio há um samba do crioulo doido em relação aos ônibus. Em alguns a entrada e a roleta ficam na frente, como em São Paulo, o que restringe o espaço para alunos de escolas públicas e velhos, essa gente que anda de graça. Em outros permanece a entrada por trás, com velhotes e estudantes miseráveis entrando pela frente e tendo o ônibus inteiro para se esparramar.

Pois então, quando chamei a velhinha, o motorista veio com a pérola: “não tem lugar pra ela sentar. Se ela cair e se machucar a culpa vai ser sua!”. “Ah é mesmo!? Tá bom”, ri do absurdo. Nisso a velhinha entrou toda serelepe. Os bancos da parte da frente, antes da roleta, estavam todos ocupados. Uma coroa levantou pra que a velhinha sentasse. Pronto, resolvido. Não tinha muito o que discutir com uma cabecinha dessas. O mais importante é que pratiquei duas boas ações ao mesmo tempo. Ajudei a velhinha a pegar o ônibus e deixei o motorista, essa praga urbana, puto da vida.