15.5.03

Mauro Rasi estava em seu leito de morte quando mandou chamar Paula Foschia, que naquele momento fazia a faxina semanal no apartamento da Cora Ronái. Paula ainda não tinha terminado o serviço, mas aproveitou que a patroa havia saído pra encontrar com o Millôr na Letras e Depressões e se pirulitou.

– Paula Foshineira, como vai? – Rasi sussurrou o infâme trocadilho. Sinal de que a coisa não andava boa pro lado do dramaturgo. A cama onde estava deitado era cercada por seus gatos.
– Eu vou bem. E você, Cova Rasi? – Paula devolveu na mesma moeda.
– Li sua peça, como é mesmo o nome dela?
– Nem eu lembro direito. Éééé... A Mecânica da Ocupação ... Não-Natural...
– dos Espaços!
– Sim!

Nisso, as tias chegam ao quarto:
– Vocês estão falando da história da menina que não sabia se era apaixonada pela professora de natação? Eu li e a-d-o-r-e-i! Paula, você era a menina apaixonada pela professora? – pergunta Tia Norma, servindo um chazinho.
– Menina, a parte do fist fucking é sensacional! – emenda Tia Hilda.
– Já estou vendo essa peça sendo encenada na pérgula da piscina do Copacabana Palace, que nem “Pérola” – suspira Tia Lola, dando um remedinho para o sobrinho.

– Bom, enquanto eu não posso escalar uma Vera Holtz pro papel da professora de natação, a peça vai ter uma leitura no dia 18 de maio, um domingo, às 6 da tarde lá na Cobal do Humaitá. Dá uma olhada nos detalhes lá no meu site. Será que você dura até lá, Rasi? – Paula voltou a carga.
– Quem sabe, Paula? O que eu queria dizer é que o legado do besteirol agora está em suas mãos.
– Ah é? Tá mesmo? Poxa, e eu nem fiz as unhas... Desculpa mas eu tenho que voltar por meu selviço. Ainda tenho que limpar o cocô dos gatos e o Pentium 6 da minha patroa.
– Paula, antes de ir, me faz um favorzinho? – sussurrou Rasi, quase sem fôlego.
– Qual?
– Dá uma limpada no meu tapete de linóleo?