Cinco pras 6 da manhã. O DJ Janot tocou a última música da noite: uma versão do Wander Wildner para a xarope "Without you", trilha sonora do filme “Houve uma vez dois verões”. Já não havia mais ninguém na pista e as luzes estavam acesas. O contador regressivo do CD se aproximava do zero. Era como se os últimos grãos de uma ampulheta estivessem caindo (que poético...). Chegava ao fim minha primeira noite como DJ. God bless you, please, Mrs. Robinson.

Foi por um sensato destino que a minha canja de músicas trash na Casa da Matriz caiu no dia do gari. Por conta disso tive a brilhante idéia de arrumar uma camisa laranja da Comlurb. Mas o único lixeiro com quem eu consegui falar, na sexta, só largava o serviço às 10 da noite e morava em Bangu. Aí é sem chance.

A Casa da Matriz estava um tanto agradável. Nem cheia, nem vazia. O ambiente perfeito para pagar o mico de tocar de peruca e óculos escuros, bem no estilo Hermes e Renato (que patético...). A galera não chegou a ficar apavorada com o “Funk do Chapeuzinho Vermelho”. Pelo contrário, teve gente que bateu bundinha. Aí deu até pra mandar mais uns funk melodys, “Me leva”, do Latino, e “Mel da sua boca”, do Copacabana Beat. E lá estava eu tocando “He Man”, “Comer, comer”, “Farofa-fa” quando umas malas pediram Chico Buarque. Como sou um “Bom menino”, dei-lhes “uma pirueta, duas piruetas, bravo, bravo”. Mesmo assim eles pediram mais. Incrível como essa gente da Brazooka vive de chico!

A cena mais bizarra da noite, no entanto, se deu quando a pista já estava vazia. O doutor Janot tocou “Máquina de Sexo”, o funk proibidão que discorre amenidades como “máquina de sexo eu transo iguanimal” e “xatuba come cu e depois come xereca” (quero ver tocar isso com a pista cheia). Do nada surgiram uns sujeitos empolgadíssimos cercando uma indefesa donzela. Para que não ocorresse um estupro coletivo tive que interceder:"Opa, primeiro é eu! Se sobrar alguma coisa, vocês ficam com a carcaça!".

Muito obrigado Dj Marcelo Janot. Foi uma honra tocar com um grande conhecedor de MPBc (Música Popular Brasileira "chatinha") e um dos melhores críticos de cinema do Brasil, cujo trabalho eu acompanho desde molequinho (a primeira crítica de filme que eu li foi do ET, escrita por você). Espero que no futuro você não se arrependa do monstro que criou. Até a próxima.


DJ Janot em ação: barba bem feita... e sem meleca!