DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA

Eu estava chegando em casa à noite, quando um casal de quarentões parou o carro pra me pedir informação:

“Como é que eu faço pra pegar a 24 de Maio?”, perguntou ele ao volante.
“Dependendo de que altura dela você for dá pra ir por aqui, pegar o túnel e sair no meio dela.”
“Não é nessa rua que tem um hotel no começo?”
“É ela mesma. Mas pra ir nesse hotal você pode fazer isso que eu tô dizendo e retornar...” (Humm... então vais comer essa mocréia? Bom, até que pra tu tá bom)

Percebi que ambos estavam apreensivos. O nervosismo deixava o sujeito confuso. A mulher, sempre calada, já nem se incomodava em expor a situação. Seria legal se passasse alguém lá na hora e eu parasse pra perguntar a mesma coisa e acabasse juntando um monte de gente pra constrangimento geral do casal.

“Você conhece um hotel aqui perto?”, tascou o cara, no limite do desespero.
“Olha, faz o que eu tô dizendo. Segue a sinalização pro túnel que na saída dele tem um. Qualquer coisa pára de novo e pergunta.”
“Você não tá indo pra lá?”
“Não, não, eu moro aqui na rua” (estava em frente ao portão de casa. Tá pensando que eu sou guia de motel?)
“Tá bom amigo, eu me viro. Obrigado”
“Boa sorte”

O cara estava disposto a me dar uma carona, vejam só! Fiquei com tanta pena da confusão mental do sujeito que quase aceitei levá-los ao maldito motel. Não duvido que chegando lá ele me convidaria para dar uma esfolada na mulher como retribuição.