7.1.04

SENHOR DOS ANÉIS - O RETORNO DO REI



Entrei de penetra numa sessão para a imprensa, dias antes da estréia da derradeira parte do Senhor dos Anéis. Era uma sexta-feira, nove da manhã. Tinha dormido pouco e a minha disposição para encarar mais de três horas de projeção era pouca.

As imagens deslumbrantes dos campos e montanhas da Nova Zelândia, tão usadas nos dois primeiros filmes, já não impressionam. Faltava à trama algo que não fossem boiolices e diálogos sem sentido entre seres esdrúxulos em lugares igualmente esquisitos.

Pois em Retorno do Rei, a porradaria faz o filme valer a pena. As cenas de batalha já entraram nos anais do cinema. A sequência em que o exército de mortos chega para a guerra é realmente sensacional. Aliás, pedir ajuda aos mortos não é nenhuma novidade. Pelo menos para o Fluminense, que nos momentos em que precisa da massa tricolor convoca os velhos de suas casas, os doentes dos hospitais e os mortos de suas tumbas (já dizia Nelson Rodrigues). Outro ponto alto da película é a parte em que os hobbits são reverenciados pelo rei e pela realeza (apesar da indefectível cara de bunda do Frodo).

Saí do cinema sentindo cheiro de Oscar. Ou teria seria o salgado que distribuíram antes do filme que eu, sem fome, havia guardado na mochila? O fato é que os fãs do Senhor dos Anéis devem preparar a vaselina. Eles vão levar tanta estatueta que não vão ter onde enfiar.

Abre parênteses. Imagino que vocês devem estar se perguntando: ué, o Vela, o maior detrator do Senhor dos Anéis, falando bem do filme? O que tá acontecendo? Será que ele tá mais, digamos, sensível? Que estranho. Fecha parênteses.

PRAS PUTAS QUE OS PARIRAM!!!

Abre parenteses: vi o filme pela segunda vez, no dia da estréia, no cine Palácio. Ao contrário da platéia do lotado cinema povão, que urrava a cada cena heróica e zoava a cada boiolada, os jornalistas, profissionais sérios e compenetrados, tinham que se conter. Exceção do Odisseu Kapyn, que de vez em quando soltava alguma piadinha discreta, e de um mongolóide excitado sentado perto de mim. Fecha parênteses.

O triângulo amoroso entre Sam, Frodo e Gólum continua pegando fogo. Sam não entende como ele, apesar de gordo, é preterido por uma criatura tão feia como Gólum. Preocupado com a forma, Sam come pouco, mas não consegue emagrecer, enquanto que Gólum ostenta uma magreza digna de modelo internacional. Pra quem fica por baixo, quanto menor o peso, melhor. (Juca Chaves costumava dizer que as mulheres do Jô Soares gozavam duas vezes. Uma no orgasmo e outra quando ele saía de cima. Se não me engano, por causa disso o Jô não fala com o Menestrel até hoje).


Larga o meu macho, sua bicha morfética!

Mas esta terceira parte também guarda supresas. Sam revela a Frodo o desejo de voltar ao Condado para saborear meigos morangos silvestres com creme e ... casar com Rosinha! Nessa hora há um silêncio dramático. Frodo aproxima a cabeça no ombro de Sam e diz Casa comigo! (não é verdade, mas a impressão é realmente essa). Em dado momento, Frodo está deitado no colo de Sam, e delirando, diz que está se sentindo nu no escuro.


AI, UI, sai pra lá, bicho feio! Tenho nojo de aranha!!!

Depois de finalmente queimar o anel, Frodo apaga e acorda numa cama quente e sedosa. Os amigos vão chegando aos poucos. Dois hobbits dão mosh na cama. O anão aparece todo besuntado. Em seguida, entra o cara da flecha e depois o da espada, o Aragorn. Faltou alguém? Sim! Ele! Sam! O gorducho entra no quarto triunfalmente, no maior estilo comercial do Cachermir Bouquet, em close e câmera lenta. Só faltam as pétalas de rosa caíndo e a Primavera de Vivaldi (pa-pam pararã pam pam pam).


Eu quero o meu senhor Frodo!!!

De volta ao Condado - o florido e arredondado lugar onde os hobbits moram, muito semelhante com a terra dos Teletubies - Sam se casa com Rosinha. Frodo diz que depois de queimar o anel algo no seu íntimo mudou. Começa a vir com um papo existencialista (aí já era) e termina de escrever a sua parte no livro que o tio começou. Sam chega por trás e Frodo conta que ainda há espaço para mais uma coisa. No livro.


Paraíba masculina mulher macho sim senhor

A profissão mais rentável da Terra Média deve ser a de cabelereiro, tal o cuidado que os homens têm com suas madeixas. Às vezes dá impressão que Aragorn não dá bola pra loura da foto acima porque o penteado dela não é tão fashion. A loura, por sinal, é a protagonista da cena mais macha do filme, enfrentando um ser preto montado num dragão que parece com o vilão da Caverna do Dragão (não me cobrem nomes de personagens e reinos, por favor. Se eu souber mais de 10 vou achar que virei fã).


Liv Tyler, não quero que você dê pro Neo!!!

Quem faz um papel fundamental no filme é o agente Schmidt. É ele que designa o escolhido, o ser que vai salvar Zion do mundo das máquinas. Só falta dizer que a Terra Média, no fundo, no fundo, é Matrix. Aliás, esse ator é especialista em filmes gays, como Priscila, a Rainha do Deserto, incompreensíveis, como Matrix, e Senhor dos Anéis, que é um misto de gay e incompreensível.

Uma coisa curiosa na platéia do Palácio foi a presença de grupinhos de boiolas. Como eu suspeitava no texto sobre o primeiro filme, Senhor dos Anéis deve ter virado filme cult entre os gays. Não ficaria espantado se inventassem uma festa GLS chamada Sam& Frodo´s Party. Num bar chamado Pônei Saltitante, é claro. Ou se hobbit virasse sinônimo de gay.

Antagonicamente às zoações, em dados momentos a algazarra de alguns machinhos perde a graça como piada repetida. Na décima vez em que alguém bradou vai queimar o anel, Frodo! um (provável) boiola não resistiu e tascou: tá com inveja, é?. Mais uma prova irrefutával de que os gays adotaram o filme.

Abrindo novamente parênteses. Vocês sabiam que exite fãs do Senhor dos Anéis tão radicais que se recusam a passar perto da porta do cinema ou alugar o filme, para se manteram fiéis ao livro? Taí um estágio de mongolice mais avançado do que assistir ao filme fantasiado. Fecha parênteses de novo.

Vai chegando ao fim a emocionante saga de críticas aos filmes do Senhor dos Anéis. Espero que as minhas críticas tenham aberto a cabeça dos fãs da história. Não pretendo que eles deixem de lado a obra de J.R.R. Tolkien só porque ela é gay. Basta assumir essa condição. Vocês conseguem. Se vocês leram o livro, um fardo tão pesado quanto o anel, vocês vão chegar lá. Que a força esteja com vocês.

Gays, a trilogia foi feita, em boa parte, para vocês. Tirem bom proveito.

Até o Oscar. Quem sabe, desta vez, eu não chegue na hora do recital de poesia élfica e assista a cerimônia de entrega da estatueta junto com os fãs?

O FIM