6.10.04

Vela e Criwella



O último domingo amanheceu chuvoso. Tempo ruim, como a eleição pra prefeito do Rio. Fui designado pelo meu ofício para acompanhar o Bispo Crivella em seu dia eleitoral. Pensei em ir fantasiado de diabo, mas era um risco. Ele poderia gostar. Não lembrava da última vez que havia acordado às 8 da manhã de um domingo. Se eu não nasci pra acordar cedo, imagina num domingo chuvoso.

Às 10 da manhã estava num clube em frente à praia de Copacabana, onde o candidato vota. Lamentei que uma ressaca não avançasse sobre a zona eleitoral. A espera pelo Bispo foi tortuosa. Os coleguinhas se mostravam super preparados. A repórter do SBT me perguntou se o Crivella era senador pela primeira vez e se já havia tentado uma vaga no governo. Vi uma mulher com a marca do candidato costurada no blazer. Pensei que fosse a repórter da Record, mas era assessora dele. Mas a repórter televisiva da Arca Universal estava lá. Constrangida, mas estava.

Uma hora depois, o Bispo e a família chegam andando pela ciclovia, como se tivessem surgido das trevas. Lamentei que naquela hora não estivesse passando uma bicicleta desgovernada. O neto do candidato, um guri louro de dois anos, sensibilizou as repórteres. Um eleitor reclamou que o Bispo havia furado a fila pra votar - explicaram para ele que por lei isso é permitido. Depois de votar, o batalhão de repórteres e cinegrafistas cercou o candidato. Apesar de ter gravado alguns discos, Crivella não fala, sussurra. E como disse o Artur Xexéo, ele não olha pro seu interlocutor, mas talvez pro Espírito Santo. Fui lá eu para trás do candidato pra tentar ouvir alguma coisa. Disseram, inclusive, que eu apareci no Fantásico com cara de bunda. Então, lá vieram as pertinentes perguntas das jornalistas.

"Candidato, confiante na vitória?"
"Sim. E não se surpreendam se eu vencer já no 1º turno".

Na véspera, o Botafogo havia goleado o Fluminense por 4 a 1. Crivella comentou:

"Mesmo com o juiz atrapalhando, o meu Botafogo fez dois gois em cada tempo. Mandou 22!".

Só faltava essa. Ainda tive que aturar o cara sacaneando o meu time. Finalmente um coleguinha pergunta o que eu queria saber.

"O que o senhor achou da decisão do juiz de tirar a Record do ar?"

Crivella acaba de responder outra pergunta. O coleguinha pergunta de novo.

"O que o senhor achou da decisão do juiz?"
"O juiz do jogo?"
"Não, do TRE"

Crivella desconversou e foi deixando o clube. Felizmente, por problemas operacionais, não tive que passar o resto da tarde com o Bispo.