17.1.05

* Velório do Bezerra, no Teatro João Caetano. Um grupo de quatro malucos de Brasília pára em frente ao caixão, fazem um brinde com copos de plástico cheios de cerveja e vão embora.

Com a morte de Moreira da Silva e Bezerra, Dicró é o último dos três malandros in concert: "Agora sou a bola da vez", não cansou de repetir. Quando parou diante do caixão, o adorador de sogra sussurrou: "A malandragem tá morrendo".

Repórteres fêmeas estavam tão deslocadas no recinto quanto eu estaria se fosse mandado prum Fashion Rio da vida. Uma delas perguntou pro Dicró se ele tinha composto muitas músicas com Bezerra.

Apesar de abalado, Marcelo D2 não estava com os olhos vermelhos.

Bezerra provou que não era cagüete. Seu dedo indicador não apontou pra ninguém.

* Estava enganado! Em julho do ano passado, Bezerra da Silva gravou o disco Caminho da luz, seu primeiro trabalho gospel. Ainda não tive coragem de ouvir o CD, que tem músicas como Me chamo Jesus, Acreditar na palavra, Redenção, Achei a vida e Eu andava nas trevas. O disco tem produção de sua viúva, Regina, responsável pela conversão do macumbeiro Bezerra em evangélico. A própria aparece no encarte, que não diz se há uma gravadora por trás.



* Abaixo, um trecho da matéria da Arca Universal, portal da Igreja do bispo Macedo.

Bezerra se entregou ao Senhor

"Aprendi a lidar com as pessoas", dizia o cantor mais carioca do que nunca. No ano de 2001, Bezerra começou a freqüentar as palestras no Templo Maior da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Em um de seus depoimentos à Folha Universal, em janeiro de 2004, o velho e bom malandro, conhecido pelas músicas populares que tanto agradam ao povão e até às classes economicamente privilegiadas, conta que passou a ter melhor qualidade de vida depois da mudança sua interior.

"Aprendi que precisamos uns dos outros. Estou mais tolerante com as pessoas, com a imprensa e com minha família", contou.

* Apesar de ter levado Bezerra para a Universal, a viúva Regina não merece morrer de fome. Portanto, em vez de comprar os discos do Bezerra - que sempre levou rasteira das gravadoras - quem quiser dar uma força é só fazer barba, cabelo e bigode no Salão Bezerra da Silva.


Como esse papel é antigo, os preços devem ter aumentado um pouco. Se não me engano, também tem um salão no Flamengo, que antes da conversão era decorado com pôsteres do Bezerra, mas que depois da conversão deram lugar a adesivos de Jesus.