12.11.03

CONEXÃO NELSON RODRIGUES




Amigos, toda vez que o Fluminense precisa de sua torcida os velhos saem de suas casas, os doentes dos hospitais e os mortos de suas tumbas. No último sábado eu vim do Além especialmente para matar as saudades do Mário Filho. O estádio, não o meu irmão, que encontro todos os dias, junto com João Saldanha e Ary Barroso. A última vez que estivera aqui foi em 1995, dando um empurrãozinho para Renato Gaúcho fazer o memorável gol de barriga.

A vitória do Fluminense sobre o Coritiba estava escrita há cinco mil anos. Desta vez a explicação era a presença do nosso venerado Gravatinha, que só baixa do Além para ver triunfos do Fluminense. Vim ver esse menino Romário jogar, disse com sua voz fina de criança que baixa em centro espírita. Gravatinha morrera em 1918, com oitenta e tantos anos.

O tricolor jogava com ímpeto, mas não conseguia definir a partida. A situação se complicou quando o lateral Jadílson foi expulso e tomamos o gol da virada. A torcida pó-de-arroz não lotava o Mário Filho como no meu tempo, anos em que o Fluminense lutava pelos títulos, não sofria para se manter na divisão principal do Brasil.

Pois mesmo pequena, a massa repetia o coro: Nense! Nense! Nense!, de tal maneira que os jogadores adversários tremeram, ao passo que nossos só faltaram subir pelas paredes como lagartixas profissionais.

Perto do fim, quando o mais otimista pó-de-arroz já não conseguia mais acreditar, o freudiano zagueiro Odvan dividiu uma bola com Alex Oliveira. Ela bateu no Sobrenatural de Almeida, que estava ali para atrapalhar o tricolor, e entrou mansamente. Já passava do tempo normal, quando Romário recebeu livre na área. Ele dominou e chutou. O abominável Sobrenatural de Almeida tentou cortar, mas acabou desviando para as redes do Coritiba. Dois gols contra dele!

Foi uma vitória santa e trágica. Gravatinha pulava gritando: Genial!Genial! Torcedores e jogadores esguicharam em um choro coletivo e saíram comemorando como se fosse um título. Um deles, ao meu lado, ajoelhava com os olhos marejados. Cada tricolor, ao sair do estádio, podia cair abraçando num nome: Fluminense. Fluminense. Fluminense.