8.11.07
na última semana passei por uma experiência inédita na minha vida: assisti a um jogo do flamengo na torcida burro-negra. era contra o corinthians, no maracanã. pra tornar as coisas ainda mais bizarras, fui com um grupo de turistas. o transporte de van e o ingresso, custaram 60 reais. perguntei pro "guia", um rubro-negro, se o preço tb incluía uma camisa do corinthians. pelo menos a quantia foi paga por minha amiga mexicana, grata por meus serviços de cicerone.
a van saiu de ipanema. no caminho, o motorista tentava explicar em inglês as qualidades dos jogadores burro-negros. ninguém deu bola. estacionamos no vão q separa os sentidos da radial oeste. qdo desembarcávamos outro flanelinha chegou dizendo q a vaga era dele. antes q o assunto pudesse ser resolvido a tiros, atravessamos a avenida rumo ao maraca. tirei minha câmera digital do bolso e a agarrei com firmeza. no meio das barracas de churrasquinho, o "guia" avisou q aquele era o "meeting point", caso alguém se perdesse. "e é mto fácil de se perder", ele enfatizou. ainda mais no meio daquela fumaça q saía dos churrasquinhos.
mal sentamos na arquibanca amarela e um enxame de vendedores tentou nos empurrar "souvenirs". proibi a mexicana de comprar uma camisa pirata do flamengo. deixei claro para ela todo o meu asco de estar ali, no meio daquela torcida podre. expliquei q os flamenguistas eram tidos como a escória da sociedade. bandidos, gente de mal caráter. só conseguia vibrar qdo o placar anunciava a vitória do fluminense sobre o figueirense. tentei tirar uma foto sorrindo e com o polegar pra baixo, mas a máquina não funcionou. um sujeito reparou e percebeu q eu não era da laia dele. para evitar qualquer transtorno, optei pela discrição. posso dizer q cantei junto com a torcida na hora do "praia de paulista é o rio tietê" e "ão ão ão, segunda divisão", grito q o tal guia tentava ensinar pateticamente à uma gringa.
estava um pouco dividido. torcer pro flamengo ganhar e afundar o curintia ou torcer pro curintia vencer e evitar q o menguinho siga firme rumo à libertadores? a dúvida acabou qdo o curintia fez 1 a 0. abri um sorriso sem encarar ninguém. vibrava em silêncio e saboreava a cara de bunda dos burro-negros. até o gol de empate, no fim do primeiro tempo. fudeu, pensei. veio o gol da virada. o tal guia comemorou com um soco no ar q atingiu em cheio o queixo da gringa. abracei a mexicana pra evitar q os eufóricos burros-negros encostassem em mim. o curintia só não empatou no fim por milagre. mas torci pro jogo acabar, entre duas micro torcidas organizadas, as pessoas viam o jogo de pé. expliquei pra mexicana q os burro-negros não podiam sentar pq eram maricones, estavam com o culo doendo de tando dar.
na saída, o chão estava inundado no anel q dá acesso às arquicancadas, do lado do banheiro. bela imagem do estádio da final da copa de 2014... enquanto esperávamos q todos os turistas se juntassem, as gringas eram obrigadas a meter os pés na água. uma delas, inclusive, havia perdido as sandálias. uns burro-negros perceberam a situação e gritavam "pisô no mijôôô", como se elas entendessem. na porta do banheiro, dei de cara com um amigo, mas fiquei na minha. não queria lhe dar o prazer de me ver depois daquela vitória. lá fora, no "meeting point", outros urubus tentaram sacanear uma loura gringa de cabelo encaraloado. "miojo, miojo". como se ela entendesse.
já não bastasse o trânsito ruim na saída do jogo, a van ainda fez uma manobra louca para q embarcássemos, nos obrigando a atravessar a radial oeste duas vezes. de volta à ipanema, um mexicano q falava inglês perguntou onde era a festa de hallowen. era dia 31 de outubro. a "guia" contou sobre os cartazes espalhados pela cidade "hallowen é satanismo, brasil é país cristão". o chicano ficou puto. eu tava meio cansado pra criar qq polêmica e deixei pra lá. já estava satisfeito em ter sobrevivido.
no dia seguinte, fui jogar fora o ingresso e notei o preço: 12,50 reais. meia entrada. bela malandragem do pessoal do hostel...