5.12.05



Ontem precisava fugir da realidade futebolística de qualquer maneira. Pessoas usam vários caminhos para escapar, como cinema, drogas, música. Meu escapismo acabou sendo algo próximo da própria realidade, a peça do Marcelo Tas, "Como chegamos aqui? A história do Brasil segundo Ernesto Varela".

Marcelo poderia simplesmente exibir os vídeos do apaixonante repórter Ernesto Varela, a melhor coisa surgida na televisão brasileira antes do Cadeia do Alborghetti. Mas Tas conta um pouco da história do Brasil como pano de fundo para os vídeos de Varela.

De uma sinceridade acachapante as respostas do repórter da Globo Tonico Ferreira durante o comício das Diretas Já em São Paulo. Difícil acreditar que ele manteve o emprego depois dele falar numa boa para o microfone de Varela sobre o passado de comunista e sorrir dizendo que trabalha para a emissora da situação. E também admitir o atraso da cobertura da Globo à campanha das Diretas.

Sensacionais também são as tentativas de conversa com Paulo Maluf. Além da famosa "dizem que o senhor é corrupto. É verdade?", Varela leva um bolo de aniversário ao então candidato à presidência em 1985 e puxa um parabéns pra você diante de um constrangido Maluf.

Há também material fresco, feito este ano pelo já careca Varela em Brasília. O tema na capital federal é sobre os políticos com capacidade notória para se manter no poder. "Você conhece alguém assim?", pergunta na lata para ACM Neto.

O grand finale dos arquivos de Varela é uma entrevista na Copa de 86 com o deputado e vice-presidente da CBF Nabi Abi Chedid, um dos maiores pulhas do futebol brasileiro e que mantém os dois cargos até hoje. Na ocasião, ele proibira os jogadores de falar sobre política (a seleção ainda tinha o politizado Sócrates, ao contrário das bestas de hoje). Tas considera esta a entrevista mais tensa de sua carreira. Confira aqui o motivo.

Na parte interativa, em que responde preguntas da platéia e da internet, Tas se esquiva de uma pergunta sobre o Garotinho - qual marketing ele usa com os cariocas? A peça - ou espetáculo multimídia - tem como um dos patrocinadores o governo do estado. Mas, apesar da esquiva, o casal Garotinho aparece rapidamente no clip final, ao som de "Que país é este?", ao lado da corja política brasileira.

A pergunta mais importante, qual a saída do Brasil?, é dada pelos fisósofos de rua, os taxistas.O próximo final de semana será a despedida de Tas do Rio. Aproveitem. É baratinho - 10 reais. O problema é quando a peça termina e a realidade volta. O futebol, a toalha, a morena...