SAARA / CAMELÓDROMO
Não há lugar melhor no Rio de Janeiro para fazer compras do que o conglomerado de lojas e barracas da Saara e do Camelódromo. Principalmente às vésperas de datas comerciais, como o Natal (ah é, Natal é data religiosa). Saara é a sigla para Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega. Nada a ver com o deserto, como muita gente deve imaginar. Mas pelo calor que faz pelas estreitas ruas não é difícil ver miragens. Como um display da Sandy sorrindo, com cara de safada e a seguinte frase ao lado: "Liberdade é apenas um detalhe" ( ! ). Outra imagem digna de alucinação de Santo Daime é a do teto da casa de fantasias Turuna, com cabeças do Mickey, Zé Carioca e Picatchu penduradas no teto. Parece um açougue surreal. O delírio continua numa loja de discos, que toca o CD da "Pomba Gira". Um vendedor sopra uma corneta verde-amarela. O que seria uma estratégia para atrair fregueses acaba servindo para despertar do delírio. Um casal de olhos puxados comanda a loja de 1,99 que oferece prestações em 10 vezes ( ! ). Na Saara, árabes, libanêses e portuguêses convivem numa boa. No ano novo judáico e no dia do perdão algumas lojas são fechadas. Fecham também as lojas que não se acertarem com a recém-chegada máfia chinesa.
Colado à Saara fica o labirinto de barracas formado pelo Camelódromo da rua Uruguaiana. Todas as mercadorias são originais. Originais do Paraguai, da China... A prova de que a pirataria é muito bem feita está nas camisas da Lacoste. Continuam ridículas, mas pelo menos são cinco vezes mais baratas (20 reais). No Camelódromo a camisa da seleção brasileira sai por cinqüentinha, menos da metade do preço. Mas pelo futebol que tá jogando, a réplica de 15 reais tá mais em conta. Numa barraca de fitas de vídeo os filmes pornôs ficam "protegidos" por uma prateleira onde está exposta a coleção Grandes Heróis da Bíblia. O agente "00Sex" protege a retaguarda do Daniel da Cova dos Leões. Em frente à entrada do metrô, um negão vestido de ciclista, com óculos escuros e capacete, dança que nem um robô. Tudo pra chamar a atenção dos transeuntes para a promoção de CD's de uma barraca. Após destrinchar esse templo consumista, nada melhor que parar na padaria da Alfândega com Uruguaiana e tomar o energético e afrodisíaco Cuca no Lance, já que a próxima incursão será na Vila Mimoza.
DEPOIMENTO
Desde os tempos de empregada doméstica que eu faço compras na Saara e no Camelódromo. Além do preço bom é uma tranqüilidade enorme. Aqui eu acho as cuecas extra grandes do meu maridão Pitanga a um precinho camarada. Compro também as roupas afro-brasileiras que usamos no nosso dia-a-dia. Agora que moramos no Palácio do governo ficamos ainda mais exigentes quanto à qualidade dos produtos e é por isso que eu continuo a prestigiar esse comércio maravilhoso.
Benedita da Silva, governanta, digo, governadora do Rio
E aí? Já votou para escolher A VERDADEIRA MARAVILHA DO RIO? Não deixe para última hora, que nem imposto de renda. Dia primeiro de maio sai o resultado.
